quarta-feira, 22 de abril de 2015

Onde está nossa criança interior?

Texto: Amélia Dolores Berti

Muitas vezes nos perguntamos: Onde está nosso lado mais alegre, mais espontâneo, mais

original, mais intrusivo, mais corajoso, mais sincero e mais criativo? Por que vivemos minados de intelectualizações e assim damos pouco espaço para às emoções que nos preenchem de satisfação? Claro que permanece em nós e se expressa como pode de maneiras mais aceitáveis e controladas para não sofrermos consequências de atitudes impensadas.

O mundo moderno, com tantas demandas e condicionamentos, nos leva a reprimir essa criança e quando isto acontece em demasia sentimos a incongruência de não estar sendo nós mesmos. Aos poucos vamos diminuindo nossa autoestima por perder a autenticidade de não sermos inteiros, reprimindo emoções. 

É um sentimento de traição e desamor consigo mesmo que minimiza nossa capacidade de amar, não só a si, mas o outro. 
Com frequência caímos no exagero de buscar afeto e aceitação de todas as formas: carinhos, elogios, confirmações positivas por gestos e atitudes. Isso indica que nossa criança interior não está bem, tornando-se “pedinte”, exigente demais, insatisfeita e refletindo-se às vezes na tristeza, mau humor e desqualificação pessoal.

Há quem viva com saudades do tempo de infância em que, ora brincava despreocupadamente, sorria, chorava, ria e  ora fechava-se no seu mundo de fantasias, com seu pensamentos mágicos. Esta nostalgia no aqui e agora denota a repressão da emoção infantil que necessita vir à tona.

Apesar das dificuldades impostas não só pela estrutura de personalidade como também pelas injunções contextuais, é possível abrir espaço para este resgate. Em vários momentos, não somente nas horas de lazer, se pode reativar emoções agradáveis que provocam bem estar, saliento algumas:

- Brincar de várias formas, dando mais tempo para os hobbies preferidos, conversando amenidades com amigos, enfeitando-se à sua maneira, inventando e criando sem visar fins lucrativos, mas apenas por prazer.
- A música com sua vibração nos conecta com emoções profundas. Cantar, dançar, movimentar-se num ritmo mais agitado ou num embalo acalentador é benéfico, sobretudo para equilibrar e aliviar estados emocionais mais estressantes.
- A prática de exercícios físicos é saudável, porém a escravidão das demandas externas de estética e da competição, tolhem a oportunidade de exercitar-se de forma mais prazeirosa. Sacrifícios demasiados não combinam necessariamente com a alegria de viver. Praticar o esporte preferido, andar livremente curtindo a natureza pode ser muito mais gratificante.
- A convivência com pessoas bem humoradas e crianças reativa gestos, expressões e contatos genuínos com nossa criança interior. Na vida adulta estes momentos são escassos e podem ressurgir à medida que o tempo passa. Um exemplo dessa condição é a oportunidade de uma nova convivência familiar, onde não é raro ver um vovô(ó) agindo como um verdadeira criança na inteiração com os netos.
- Estabelecer uma relação interpessoal mais solta permitindo-se ser do seu jeito diminui o receio do contato ou de ser aceito.  Solicitar um “colo afetivo” a alguém de sua confiança, também é uma outra forma gostosa de fortificar nossa criança carente.

Assim é possível ser mais verdadeiro e mais leal com nossa natureza, tomando a decisão de estar no mundo com mais permissividade, coragem, autenticidade e entusiasmo. Este é o melhor caminho para viver mais amorosamente consigo mesmo e com os demais. 
As escolhas de como andar é tarefa de cada um.

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