quarta-feira, 8 de abril de 2015

De mochila, cruzando a Espanha, a pé.

 Texto e fotos de Sandra Graneto

Em uma semana percorri a pé mais de 120 quilômetros no sul da Espanha. Um dos caminhos de Santiago de Compostela, rota medieval de peregrinação com mais de 11 séculos de existência. O que levou-me a percorrer este caminho? Busca religiosa, turismo e história. Não há regras e também não é necessário ser jovem ou atleta para ser um peregrino. Mas, de uma coisa, tenho a certeza: todos que o percorrem têm um grande encontro consigo mesmos. Não há prazos estabelecidos para o tempo de caminhada diária ou pontos fixos de partida ou chegada. Eu optei por iniciar minha jornada no norte de Portugal, em Barcelos.




A credencial do peregrino é o documento oficial que dá o direito aos andarilhos de pernoitar em albergues, igrejas ou monastérios ao longo de toda a rota. Semelhante a um passaporte, este documento tem vários espaços em branco a serem carimbados nos lugares onde o peregrino pernoita, faz as refeições ou visita. Apresentando esta credencial ao chegar em Santiago, o caminhante receberá um diploma escrito em latim: a Compostelana.

No caminho me encontrei com meus horizontes, mas também com minhas fronteiras, meus limites. Descobri pequenas coisas que não notava na minha vida diária: a solidariedade de desconhecidos, pequenos sinais que indicavam o caminho a ser seguido, o valor de uma fonte de água fresca. Me deparei com medos e vaidades. Cansada, me perdi, mas também me encontrei...



Por vezes o sol queimava o rosto, por vezes a chuva me encharcava. Cada dia diferente do outro. Um dia de cada vez. Progredindo lentamente pelas paisagens rurais, ia seguindo as indicações em forma de setas amarelas pintadas nas árvores, pedras, troncos. Estas setas amarelas são as estrelas-guias.



Durante a caminhada ao encontrar pessoas que nunca tinha visto na vida, logo estava dividindo um pouco de comida, trocando informações sobre as trilhas, recebendo ou dando dicas sobre como tratar as bolhas. Compartilhávamos todos os mais secretos sentimentos e segredos. Aquele caminho nos unia. Ao passar pelos povoados, as pessoas desejavam-nos em gaulês "boa viaxe!". É neste momento que ocorre a mudança.

De lá para cá mudei bastante. Criei sonhos, enterrei mágoas. Busco em pequenos detalhes da vida os sinais para seguir o melhor caminho. Aprendi a viver com pouco e ser feliz. Ver a felicidade em cada momento e ter a certeza de conseguir ir até o fim do caminho, determinada e com confiança.

Boa viaxe para vocês!

Um comentário:

  1. Maravilha, esta viagem está na minha lista! Parabéns pelo belo texto!

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